“Uma grande parte das decisões que tomamos diariamente sobre comida não tem nada a ver com a satisfação de necessidades energéticas. O que é que aquilo que você come diz sobre o seu estado emocional?” Era assim que começava um artigo recente do Público Life&Style. “A nossa relação com a comida é um microcosmo exato da nossa relação com a própria vida.” Dizia assim a introdução de um livro que li já há algum tempo, sobre a temática que dominou e ainda domina em parte a minha vida e, certamente, a de muitas mulheres: o comer emocional.
E o que é isto? Passa, justamente, por ‘comer as nossas emoções’. Mastigá-las e digeri-las, sem saboreá-las, com medo de que o sabor não seja grande coisa ou com culpa de estar a comer iguaria tão boa! Fora a metáfora culinária, significa que grande parte das pessoas não identifica, reconhece ou enfrenta as suas emoções. Sejam negativas ou até positivas. Porque a previsão de dor parece demasiado intensa para suportar, a maioria de nós vai passando pela vida sem verdadeiramente analisar o que se passa cá por dentro. E se há quem beba, fume, aposte em drogas mais pesadas, jogue ou compre compulsivamente para se evadir de qualquer resquício de sentimento que pareça vir à tona – eu como. Eu e muitas e muitos de vocês que aí estão, certo? Se estou triste ou ansiosa, a minha salvação está no chocolate – muito chocolate. Se estou contente, acho que mereço celebrar com chocolate. No meu caso, não sou seletiva com as emoções nem com os alimentos – qualquer situação pode ser resolvida com chocolate. 🙂
E como qualquer adição, tem as suas consequências. O comer emocional tem as suas bem evidentes na balança e consequentemente na saúde, em maior ou menor grau, e definitivamente na autoestima – seja na sensação de culpa por não ter controlo sobre este comportamento, seja nos efeitos que o comer compulsivo ou a privação de comida têm no nosso corpo.
E não é pelos quilos a mais que é importante abordar e tratar esta questão do comer emocional. Se nos sentirmos bem com o nosso corpo e aquilo que comermos não nos causar nenhuma mossa mental nem física, ótimo. Mas quando o ato de comer está embrulhado em tanta culpa, dietas sucessivas, aversão ou medo, é porque alguma coisa está mal. A comida e o prazer de comer aquilo que nos alimenta verdadeiramente e que nos deixa satisfeitas (e não enfartadas, mal-dispostas…) é das melhores coisas que pode haver e para vivermos em pleno essa relação saudável com a comida é que devemos tratar esta questão. Muitas vezes, também estímulos externos dificultam a relação com a comida – seja porque passamos todos os dias por 10 pastelarias seguidas com bolos provocantes a olhar para nós, ou porque nos deixamos condicionar por horários de almoço e jantar, tenhamos fome ou não, ou pelos menus gigantes dos restaurantes – a verdade é que é difícil, hoje em dia, com tanta fartura e oferta, comermos quando verdadeiramente temos fome, sem indulgências ou influências sociais.
E apesar dos apelos constantes da indústria das dietas, das revistas femininas e de todo e qualquer outro meio de comunicação, a solução para o comer emocional e para qualquer relação mais conturbada que possamos ter com a comida, não passa por fazer dieta. Porque dieta como vulgarmente entendemos pressupõe um tipo de alimentação mais regrada a ter durante um certo período de tempo. Pode resolver-nos o problema dos quilos a mais naquela altura, mas como não resolvemos o comportamento-base, é mais do que certo que o peso perdido retorna e, pior, mantemos a sensação de mal-estar connosco.
Assim sendo, deixo-vos aqui os cinco passos que a autora Susie Orbach enuncia neste seu livro. A ideia não é fazer dieta, mas sim mudar a nossa forma de comer e de nos relacionarmos com a comida, para a vida:
- Comam quando tiverem fome;
- Comam os alimentos que o corpo vos pede;
- Descubram porque comem quando não têm fome;
- Saboreiem cada pedacinho;
- Parem de comer assim que tiverem satisfeitos;
Completamente de acordo… 🙂 a maternidade mudou-me em muita coisa, e numa delas (que uso frequentemente para resolver questoes de educaçao, etc), é perguntar-me a mim própria "Se fosse na selva… como eu faria? como fazem os índios da Amazonia ou as tribos africanas?" LOL e começo a transferir isto cada vez mais para outros ramos da nossa vida…
Pois a nossa vidinha ocidental, feita e pensada para "simplificar" a nossa vida, tem imensos efeitos secundários e acaba por COMPLICAR muito mais… a genética sabe o que faz, e se um bebé/criança sabe o que precisa de comer e o que come (a minha filha ora pede carne, ora sopa, ora fruta, etc), é porque estamos geneticamente assim desenhados…temos de aprender a escurtar.nos mais, e ao nosso instinto e ignorar um bocadinho a razao que afinal é enviesada muitas vezes pelas convençoes sociais…
bjs!
Não podia concordar mais – temos que escutar-nos mais, em tudo, sem dúvida! 😉 Obrigada! ***